segunda-feira, 23 de novembro de 2009

EXPLICAÇÃO DA NOVELA

ENREDOS DO CORÇÃO

A fábula novelesca de Maria Moisés, de Camilo Castelo Branco configura uma típica novela sentimental, mas ao contrário do Amor de Perdição singulariza-se por dosear a mundividência romântica com uma atenção a elementos realistas. Digamos, portanto, que se trata de uma novela passional (sobretudo na 1ª Parte), equilibrada por um realismo temperado e tipicamente camiliano. Dividindo a novela em duas partes, Camilo salienta, de modo bem vincado, como veremos, dois percursos existenciais bem diferentes, mas nem por isso menos complementares: primeiro, o narrador camiliano apresenta-nos a história de Josefa da Lage; depois, com a trágica morte desta, narra-nos a vida de sua filha, Maria Moisés.

Vejamos, mais detidamente, os eventos que preenchem cada uma das partes.

• História: duas vidas e um segredo

Assim, na 1ª Parte da narrativa, assistimos ao trágico desfecho dos amores contrariados dum jovem cadete de cavalaria (António de Queirós), filho dum orgulhoso fidalgo de Cimo de Vila, por uma simples "rapariga de baixa condição", da aldeia de Santo Aleixo. É uma paixão súbita, que começa a desenvolver-se num cenário campestre e idílico, a paisagem verde e arborizada da Ínsua, uma espécie de Ilha dos Amores. Amadurece em alguns poucos meses do Verão e Outono de 1812, levando os amantes a enfrentar os obstáculos que, entretanto, se interpõem à sua paixão, personificados no orgulho desdenhoso do pai de António, Cristóvão de Queirós e Meneses.
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NARRADOR E NARRATÁRIO - Uma narrativa é uma história que é narrada. A voz que narra recebe o nome de narrador, aqueles a quem a história é narrada são designados por narratário.http://criarmundos.do.sapo.pt/Literatura/pesquisabasesliteratura022.html
PERSONAGENS - Indivíduo ou indivíduos à volta dos quais decorre a acção da novela.
• As Personagens podem ser:
- Principais ou Protagonistas: As personagens à volta das quais decorre a acção central.
- Personagens Secundárias: As personagens que participam na acção mas não desempenham um papel decisivo.
- Figurantes: Personagens com uma função principalmente decorativa.
http://criarmundos.do.sapo.pt/Literatura/pesquisabasesliteratura023.html

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Recordemos, neste contexto de oposição ao amor dos dois jovens, a cena em que o austero pai procura contrariar os desígnios do coração, impondo outra escolha para um casamento mais conveniente com a condição social do jovem morgado. Repare-se na típica reacção de António, própria dos inflamados amantes camilianos – ousando enfrentar e desafiar a autoridade paterna, em nome da religião do Amor que abraçou de alma e coração. Influente, o pai não olha a meios para executar os seus desígnios.

Relembremos, então, uma das cenas mais típicas da ficção camiliana:

– Escolhi-te mulher – disse Cristóvão. – É ainda tua parenta por Meneses. Não é herdeira; mas o irmão morgado está héctico, e o segundogénito é aleijado e incapaz para o matrimónio. Virá ela portanto a herdar os vínculos. É preciso que a visites hoje comigo.

– Meu pai – respondeu António com respeitosa serenidade – pode V.ª S.ª dispor da minha vida; mas do meu coração já eu dispus. Ou hei-de casar com uma rapariga de baixa condição a quem prometi, ou não casarei nunca.

O velho pôs a mão convulsa nos copos do espadim, arquejou largo espaço, e disse:

– Duvido que você seja meu filho. Proíbo-lhe que se assine Queirós de Meneses. Adopte o apelido de algum dos meus lacaios.

António levantou o rosto e redarguiu:

– Não se ultraja assim a memória de minha mãe.

O velho nutava entre a cólera e a vergonha. Estendeu o braço, e apontou-lhe a porta, rugindo:

– Espere as minhas ordens no seu quarto.

Ao outro dia, um mandado da regência ao intendente-geral da Policia ordenava a prisão do cadete de cavalaria António de Queirós e Meneses no Limoeiro" (pp. 135-7).

Sintetizemos as quatro grandes sequências narrativas da 1ª Parte, deste modo:

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